E aqui estou eu na terra da Rainha.
Ainda não acredito que estou aqui, é como um sonho…
Vamos começar do começo.
Vir para Londres é um desejo antigo. É Londres, uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, simplesmente é Londres.
Quando comecei minha viagem já estava nos planos, mas UK é caro e eu não tinha como bancar. Em Malta consegui juntar um dinheiro no verão e Londres voltou a entrar em foco.
Comprei uma passagem Malta-Londres sem ter nenhuma idéia de onde morar ou o que fazer.
Busquei através do Worldpackers, me inscrevi para um Hostel, mas eles nem se deram ao trabalho de me responder. Me inscrevi para outro que me repondeu quase na hora, fizemos uma entrevista por Skype, o gerente gostou de mim, porém no último segundo veio a pergunta fatal: você tem passaporte europeu ou Work Permit? Não tenho nenhum dos dois, o que fazer? Segundo o gerente, podíamos tentar tirar o Work Permit, mas para essa vaga de novembro não daria tempo, talvez eu pudesse vir trabalhar no próximo verão.
Para quem estava sem perspectiva nenhum, essa já era alguma. Decidi vir para Londres, ficar umas 2 ou 3 semanas e se não rolasse nada, ir para outro lugar mais barato.
Me deu os 5 segundos de costume e resolvi mandar meu CV direto para o e-mail daquele primeiro Hostel que me ignorou. No mesmo dia o gerente me respondeu dizendo que não tinha mais a vaga, mas que eu poderia fica no Hostel por um valor fixo a semana e se aparecesse uma vaga eu já estava por lá. Para quem era até então uma homeless em Londres, essa me pareceu uma boa opção.
Passou mais uns dias e o plano era ir para Londres, ficar no Hostel, procurar um trabalho e se nada desse certo, ir para outro país. Até que o gerente me mandou um e-mail dizendo que tinha surgido uma vaga e se eu tivesse interesse poderíamos fazer uma entrevista por Skype. Fiz a entrevista em uma quinta-feira e ele me falou que se até a próxima quarta não me respondesse era porque tinha escolhido outra pessoa.
A quarta-feira veio e passou sem nenhuma mensagem, então entendi que não tinha sido escolhida. Na quinta fui jantar na casa de um amigo e eis que recebo um e-mail do gerente dizendo que estava muito feliz por me dizer que eu tinha sido escolhida e questionando se eu poderia começar no mesmo dia em que chegava em Londres.
Assim, uma semana antes de embarcar eu tinha um “emprego” e um lugar para ficar, o que foi um enorme alívio.
Eu não estava muito preocupada com a entrada em Londres, mas Dona Mãe estava tão apavorada que me botou em pânico.
Hora de imprimir a papelada, saldo do cartão VTM, extrato da conta de D. Mãe, carta de responsabilização da mesma, reserva do Hostel. Na noite anterior à viagem me deu mais dos 5 segundos e resolvi montar um roteiro de 3 meses no Reino Unido (tempo da minha passagem de volta). Fiz a relação de cidades pelas quais iria passar com três hostels para cada, com o rating no Booking.com e o preço da diária.
Chegando no aeroporto a imigração estava bem vazia, com gente, mas sem fila. Fui atendida por uma mulher, entreguei meu passaporte e o papel que preenchemos antes de passarmos pelos agentes.
A primeira coisa que ela viu foi minha data de entrada pela Espanha e a data de saída por Malta naquele dia. Me perguntou porque eu estava a tanto tempo na Europa. Disse que estive em Malta por 6 meses fazendo um curso de inglês. Entreguei minha permissão de residência em Malta e o Certificado do Curso. Ela fez as contas e me perguntou porque eu fiz um curso de 6 meses, mas estava há 8 meses na Europa. Contei que tinha ficado 40 dias na Espanha, que tinha feito o Camino de Santiago e em maio fui para Malta. Ela questionou como eu iria me sustentar em UK, entreguei meus comprovantes, ela olhou bem para os comprovantes, olhou bem para mim e perguntou pelos originais. Disse que aquele eram os papéis que eu tinha, ela me disse que aquelas eram cópias e eles não aceitavam cópias.
Nessa hora comecei a tremer e igual vara verde e já me via deportada.
Eu disse que tinha algum valor em dinheiro. Ela me pediu para ver. Dei todo o meu dinheiro, o pouco que tinha em libra, o que tinha em euro e até meus poucos dólares (inclusive aquele $ 1 que é para dar sorte). Ela me pediu licença para contar. Contou nota por nota. Quanto terminou, tentei falar alguma coisa, mas ela me interrompeu e me disse que estava fazendo anotações, que era para eu esperar.
Eu tremia.
Ela olhou para mim e perguntou porque eu iria ficar 3 meses em UK. Eu disse novamente que iria viajar por toda UK, que começaria em Londres, subiria até a Escócia e depois desceria para o País de Gales. Então, mostrei meu plano de viagem. Expliquei que tinha pesquisado somente os Hostel na Inglaterra, que representava o primeiro mês, mas que ainda iria pesquisar os da Escócia e País de Gales.
Ela me pediu minha passagem de saída. Quando eu entreguei, ela viu que era para a Alemanha. Me perguntou porque eu iria para a Alemanha e não de volta para o Brasil. Disse que iria fazer o mesmo que estava fazendo em UK, iria passar um mês viajando pela Alemanha e só depois voltaria para o Brasil.
Ela parou, anotou mais, olhou novamente meus papéis, meu passaporte e me disse:
“Quando o agente te perguntar você tem que ter todos os documentos originais. Ninguém aceita cópia. Vou te dar dois conselhos, você pode decidir seguir ou não, é contigo. Antes de viajar para a Alemanha, tenha tudo original e também tenha a passagem de volta para o Brasil. Você tem tudo direitinho. Tem os documentos da estadia em Malta, o comprovante do curso, dinheiro para se manter, mas nem sempre isso é suficiente. Vou carimbar seu passaporte e você poderá ficar aqui legalmente por 6 meses, mas escute meus conselhos.”
Eu estava tão atordoada que mal consegui juntar meus papéis, pegar meu passaporte e colocar um pé na frente do outro para sair dali.
Queria dar um beijo estalado na agente quando ela me devolveu o passaporte carimbado.
Agradeci por tudo, principalmente pelo conselho e dei um jeito de sair quase correndo.
Saindo, a aventura só estava começando. Eu ainda precisava descobrir como sair do aeroporto e chegar na tão sonhada Londres e no aguardado Hostel.